“controlando a minha maluquez…”

“controlando a minha maluquez…”

Enquanto você se esforça pra ser
Um sujeito normal e fazer tudo igual… 

Eu resolvi  que ia assumir os meus atos falhos e tropeços, publicá-los e descobri que estava me libertando de amarras de couro e correntes de ferro que além de me prender em um mundo falso, também prendia minha circulação e me fazia crer que fingir que não era doente seria me tornar mais feliz e igual a todas as pessoas normais e felizes que nos rodeiam. Hoje careca pelo mundo, livre do peso de uma culpa que não me pertence mais, com enormes asas que me levam a alçar voos de corpo e alma com muito mais fé do que jamais poderia imaginar que havia dentro do meu coração.

A libertação é uma sensação que dá tanto ou mais prazer do que se imaginar realizando aquele sonho enorme da vida. Digo “tanto ou mais prazer” pois até a obrigação de ser feliz não te persegue mais.

Libertar-se é ganhar agora a felicidade  de fato. 

Hoje faz UMA SEMANA que não puxo nenhum fio de cabelo e além da grande vontade de parar, de me cuidar e partir pra cima dessa luta, eu recebi dessa minha valente empreitada -de dar a cara pro mundo bater – apenas carinho!

Amigos antigos que se afastaram, estão de volta. Parentes que vivem geográficamente distantes de mim estão  mais perto de coração  todo dia. Pessoas que ajudei com depoimentos me ajudaram com seus depoimentos e confiança de volta.

Eu não posso dizer que estou curada, mas posso dizer que jamais imaginei que seria dessa forma. Jamais imaginei que ficaria mais fortalecida e que seria carinhoso e empolgante encarar, até então, a incurável doença da minha vida.

Não, não está nada fácil! Os dias cada vez mais longos, a dores no corpo cada dia em lugares diferentes mas – que puxa vida – não sou mais cega às necessidades do meu corpo. Leio as dores e as marcas que tenho em mim hoje pra entender o que preciso realizar amanhã e me manter energizada!

A presidente do nosso grupo de Tricotilomania, daysinha, disse: “vamos parar de ajudar umas as outras e começar a nos ajudar.” Egoísta ela?  Que guerreiro ferido conseguirá salvar outros quando não consegue salvar a si mesmo?

Quero muito dizer obrigada à todos de todas as partes que emanam seus pensamentos positivos e a vocês que me mandaram e confiaram a mim seus pequenos mundos e sentimentos. Cá estou como já dizia Raul:

Controlando a  minha maluquez misturada
Com minha lucidez…

Quero dizer que enquanto careca total recebia olhares investigativos nas ruas dos “normais” que nos julgam e de quem nós temos tanto medo. São eles os culpados por nos escondermo? Do que nos escondemos? Hoje estou com leve moicano e os olhares de recriminação superam os de piedade do meu “câncer”.

As pessoas todas do meu grupo de apoio de tricotilomania tem pânico de imaginar que alguém descubra suas doenças, a tricotilomania principalmente. O grupo é trancado e até que todos tenham certeza que estão a salvo dos “normais” ninguém fala, ninguém posta foto, etc. Alguns nem se manifestam no grupo e a maioria dos perfis nem tem rosto, mas eu sei o que é essa vergonha. Eu sei o que é esse medo! A Sociedade dos Normais determina quem pode ou não ser feliz e alguns preferem se retirar do mundo e viver se enganando trancados em suas falsas verdades e mundos frios. Eu já estive lá e é por isso que  digo…

E esse caminho que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir por não ter onde ir

 Não tem pra onde ir pois o caminho do ser humano é aprender e viver,além de andar, livre, de cabeça erguida.

Aos amigos, aos próximos, aos que se aproximaram, aos familiares que finalmente conseguiram entender melhor a minha dor e luta eu só tenho a agradecer e dizer que eu já vivo melhor…

Controlando a minha maluquez
Misturada com minha lucidez 

(“O  Dia em que a Terra Parou” 1977 – Composição: Raul Seixas e Claudio Roberto)

Raul Santos Seixas de Batismo, o Raulzito músico e compositor viveu sua “loucura” até a morte. Foi julgado e apontado pela sociedade da época como o “maluco beleza” por não ter deixado de viver. Contrariou a sociedade e hoje é cantado por todos.

Não precisa contar para as pessoas que você está doente. Primeiro conte pra você mesmo!

Sua limitações te escondem do mundo? 

 

endorfina

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4 Comentários

  • Faah Bastos

    Sempre quando eu leio aqui transporto tudo que diz para o meu mundo e encaixo de forma perfeita. Posso dizer que várias foram as partes que me fez parar a leitura, passar o mouse por cima e refletir um bocadinho de tempo a mais. Realmente, temos medo de não sermos aceitos e o mais curioso é que desejamos ter a aceitação de pessoas que nem nos conhece, não sabe da nossa história, tampouco dos medos e aflições que rodeia a vida de cada um de nós. Eu tenho pânicos diferentes e ainda não sei como falar tão abertamente sobre eles, talvez porque ainda não os compreenda de alguma forma, mas sei da sua força em querer modificar o rumo da minha vida, e tempo diarimante não permitir ser parte de um plano que afaste os meus dedos da felicidade, tranquilidade. É uma luta diária, um passo de cade vez, outros menores do que os demais, mas é assim, vivendo tudo de pouco em pouco, porque se gastar de uma vez também não dá muito certo.
    Eu fico mesmo contente por saber que sua luta anda lhe dando frutos bons, não bons de acordo com o que o outro acha, mas o que você passou a ter como certeza ou desejo, e é assim que as coisas realmente devem caminhar, de acordo com a sua necessidade, com a sua forma de ver e encarar o mundo. É verdade, não posso negar, ainda continuaremos enfrentando os olhares dos demais, enfrentando a educação cretina de que é preciso olhar estranho para aqueles que fogem de um padrão que nem sequer é alcançado por aquele mesmo que julga, olha atravessado, se afastar um pouquinho ou apenas dá risada. Ao escrever essa última frase lembrei de um episódio na faculdade quando fazia minha primeira graduação. Era aula de Latim e meu professor estava estressado porque andava recebendo ofensas de algumas pessoas por ele ser gay, e nesse dia ele disse algo que jamais esqueci “somos todos frutos de uma educação com base na discriminação, aprendemos a repudiar aquilo que foge dos padrões que não estamos acostumados porque somos meramente covardes”. Hoje compreendo o que ele disse, porém posso dizer que me libertei em alguns pontos dessa forma de discriminar, sendo que ainda tenho cá meus preconceitos e assim continuaremos. Consegue entender o que eu disse? Eles fazem seu papel e nós estamos a fazer o nosso, de certa forma.
    Entre meus pensamentos meio soltos outros incompletos, só preciso dizer que ler suas palavras, seus pensamentos, é como me deliciar com depoimento que não prega o ato de apontar os erros que estão além de nós, mas o que existe em nós, entende? Isso é uma das coisas mais gostosas, com toda a certeza.

    03/07/2012 até 14:58
    • endorfina
      endorfina

      Oi querida Faah!! Tenho meus preconceitos dentro de mim também e vejo que é onde nós nos assemelhamos com esses transeuntes. A grande diferença é que conseguimos viver e trabalhar os nossos preconceitos de modo a eliminá-los ou diminuí-los cada vez mais. Sair na rua atualmente é como estar no conto “A roupa nava do Rei” mas acho que só eu li esse conto quando caminho pelas ruas.
      Enquanto uns se limitam, abre-se espaço para que nós continuemos a conquistar, em nós mesmos, espaços e felicidade. Eu aceito ser julgada, o que eu não aceito é que os julgados se escondam daqueles que nada são em nossas vidas. Entendo perfeitamente suas palavras e me sinto muito feliz em saber que te faço bem. O fato de nos deixamos ser tocadas pelo aprendizado do outro já nos torna diferentes de todos!
      Obrigada pelas lindas palavras!!
      =*

      03/07/2012 até 18:07
  • Liliane

    boa noite, tambem essa mesma mania que incomoda e me faz sentir uma pessoa estragada de aparencia, gostaria de conversar mais com voce sobre isso

    27/08/2012 até 23:44
    • endorfina
      endorfina

      Olá Liliane! A vida anda corrida e só vi seu post agora.
      Existe um grupo no facebook onde falamos sobre o Assunto. o grupo é o “Tricotilomania momento de vencer”
      A dona do grupo é a Dayse, uma das meninas que assim como todos no grupo tenos tricotilomania ou Tricotilofagia.
      O grupo me ajuda muito em me conhecer e a me dar mais força pra continuar o tratamento. Lá já somos mais de 70 pessoas.
      Existe meu email [email protected]
      Abaixo da minha foto exite as redes sociais onde vc pode me achar facilmente.
      Estou aguardando seu contato!! No que eu puder ajudar, ajudarei!
      Força!!!

      03/09/2012 até 15:13
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